quinta-feira, 4 de abril de 2013

Filme "Vai que dá certo" e a reprodução de desordens discursivas para alunos do Ensino Médio


HUMBERTO SILVA DE LIMA
Opinião


Iniciativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), o programa “Cinema Para Todos” carrega um currículo invejável: pelo programa, 1 milhão de pessoas já foram ao cinema, 2.053 educadores participaram de encontros pedagógicos, 1.050 escola da rede pública estadual foram atendidas e 152 filmes foram assistidos.
Esse currículo não é negativo em virtude da participação de muitos atores da educação. O problema é saber se o cunho educativo é atendido. O programa, que tem fins culturais, promove reflexão entre os alunos? Que tipo de aprendizagem é promovido pelo programa a partir da sala de aula? Abrir uma sessão para os alunos assistirem a um filme que está em cartaz é sinônimo de promoção de educação para a cidadania? Qual é a relevância do filme no âmbito educacional? 


No dia 04 de abril de 2013, os alunos do Ensino Médio e do Programa Autonomia do Colégio Estadual Brasil, situado em Mesquita, Baixada Fluminense, foram contemplados com o filme “Vai que dá certo”, dirigido pelo cineasta Maurício Farias e estrelado por atores de peso: Fábio Porchat, Bruno Mazzeo, Lúcio Mauro Filho e Danton Mello. Se a intenção foi fazer o aluno rir, o filme alcançou o objetivo, mas se a ação educativa foi levada em consideração, o longa-metragem foi um fiasco.
Mesmo com indicação de idade, se algum filme escolhido pelo professor “ofender” algum aluno, o docente será criticado e punido pela aula planejada. Mas como se trata de um programa legitimado por instâncias governamentais, a censura passa longe. Além disso, o filme em questão não ofende, porque dá o prazer do riso. Em que momento o lado pedagógico foi levado em conta? A escola hoje deve educar ou entreter?


Ensinar que o corrupto pode se dar bem – e no filme parece que isso é verdade – é redundante, pois o aluno é constantemente bombardeado com essa ideia de corrupção nos media em geral, principalmente nas telenovelas. O filme apenas reforça aquilo que o aluno já aprendeu, porque se trata de um discurso hegemônico em que o certo passou a ser o errado e vice-versa. Como reverter essa situação por meio da escola se uma política pública educacional a reforça em “Vai que dá certo”?

Não se trata de pregar moralismos no âmbito educacional. Não é demais pregar valores que motivem o educando a refletir sobre a sociedade. É necessário que ideias como a de 'ser corrupto' devam ser debatidas em prol da prima finalidade da escola: a de educar para a cidadania. O aluno da Seeduc estava ali como consumidor de filmes ou como um aprendiz sobre algum conteúdo curricular? É uma lástima pensar na possibilidade de propósitos comerciais no Programa Cinema Para Todos. Para que (quem) a escola educa (comercializa)? Que discursos devem ser propositadamente reproduzidos? 

O problema não está no filme em si, mas na finalidade de sua exibição, com dinheiro público, no âmbito educacional. Com o "Vai que dá certo", sem a mediação pedagógica necessária, o aluno pode ter a seguinte conclusão: para que servem os valores do trabalho e da boa formação? Nas condições de apresentação do filme ao aluno, parece que é a educação é reduzida a nada, ideia essa muito relevante para os governos que não têm qualquer interesse na formação crítica dos indivíduos. 

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