HUMBERTO SILVA DE
LIMA
Opinião
Opinião
Iniciativa
do Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de parceria entre a Secretaria
de Estado de Cultura (SEC) e a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), o
programa “Cinema Para Todos” carrega um currículo invejável: pelo programa, 1
milhão de pessoas já foram ao cinema, 2.053 educadores participaram de
encontros pedagógicos, 1.050 escola da rede pública estadual foram atendidas e
152 filmes foram assistidos.
No
dia 04 de abril de 2013, os alunos do Ensino Médio e do Programa Autonomia do
Colégio Estadual Brasil, situado em Mesquita, Baixada Fluminense, foram
contemplados com o filme “Vai que dá certo”, dirigido pelo cineasta Maurício
Farias e estrelado por atores de peso: Fábio Porchat, Bruno Mazzeo, Lúcio Mauro
Filho e Danton Mello. Se a intenção foi fazer o aluno rir, o filme alcançou o
objetivo, mas se a ação educativa foi levada em consideração, o longa-metragem
foi um fiasco.
Ensinar
que o corrupto pode se dar bem – e no filme parece que isso é verdade – é redundante,
pois o aluno é constantemente bombardeado com essa ideia de corrupção nos media em geral, principalmente nas
telenovelas. O filme apenas reforça aquilo que o aluno já aprendeu, porque se
trata de um discurso hegemônico em que o certo passou a ser o errado e
vice-versa. Como reverter essa situação por meio
da escola se uma política pública educacional a reforça em “Vai que dá certo”?
Não se trata de pregar moralismos no âmbito educacional. Não é demais pregar valores que motivem o educando a refletir sobre a sociedade. É necessário que ideias como a de 'ser corrupto' devam ser debatidas em prol da prima finalidade da escola: a de educar para a cidadania. O aluno da Seeduc estava ali como consumidor de filmes ou como um aprendiz sobre algum conteúdo curricular? É
uma lástima pensar na possibilidade de propósitos comerciais no Programa Cinema
Para Todos. Para que (quem) a escola educa (comercializa)? Que discursos devem ser propositadamente reproduzidos?
O problema não está no filme em si, mas na finalidade de sua exibição, com dinheiro público, no âmbito educacional. Com o "Vai que dá certo", sem a mediação pedagógica necessária, o aluno pode ter a seguinte conclusão: para que servem os valores do trabalho e da boa formação? Nas condições de apresentação do filme ao aluno, parece que é a educação é reduzida a nada, ideia essa muito relevante para os governos que não têm qualquer interesse na formação crítica dos indivíduos.