sábado, 3 de abril de 2021

PROSA DE SEPARAÇÃO

 

PROSA DE SEPARAÇÃO

 

         Maria não estava em condições de consolar a cunhada naquele momento. As perturbações de Eduardo começaram com o novo emprego dele: problemas nas vendas, aumento de metas, pressão por todos os lados. Carlos já havia percebido que ajudar o marido de Isabel era, como dizem os populares, “rabo de foguete”. Realmente Eduardo não estava pronto.

            Os operários eram “livres” para vender sua força de trabalho em troca de um salário, e essa era a condição deles para a sobrevivência, já que não eram donos dos meios de produção. Trata-se do âmago do capitalismo utilitário: o homem se vê como uma mercadoria a ser vendida. Se está sobrando, melhor jogar fora de alguma forma.

            - Isa, você não está se sentindo bem hoje?

            Ela demora a responder porque seus pensamentos ainda não estão adequados ao sistema acelerado. O mundo não era assim ainda no casamento. O que será que aconteceu em tão pouco tempo?

            - Preciso pensar um pouco.

            - Mas você precisa reagir.

           - Por quê? Maria, eu preciso de tempo. Não quero estar como o meu marido está, num leito de hospital, entre a vida e a morte por causa de trabalho.

            - Mas o que você vai fazer?

           - Se não fosse essa pressão toda em cima da cabeça dele, certamente ele não estaria assim. Hoje o que eu vejo? Uma mercadoria jogada no conserto, porque o celular dele não para de tocar. São cobranças e mais cobranças.

            - Mas a vida é feita de cobranças.

            - Somos humanos, não máquinas.

Sempre somos bombardeados por compromissos: trabalhos, contas a pagar, família etc. Mas o que aconteceu com Eduardo não era ainda o que Isabel esperava. Ela o amava e não queria perdê-lo. Carlos pensava na vida feliz que eles levavam, mesmo com os problemas psicológicos de Eduardo. Não era nada grave, o problema é que Eduardo não aguentava pressão. Ninguém sabia que Eduardo tinha pressão alta, nem mesmo ele sabia. Era um problema silencioso que, para alguns médicos, é algo mais perigoso.

O mais (des)interessante é o fato de os colegas de trabalho de Eduardo viverem um mundo distópico diante dos dilemas familiares alheios. O espírito capitalista parece reinar diante da desgraça que paira sobre um casal.

- Infelizmente, não resistiu. Lamentamos muito.

O que foi um dia riso se tornou pranto. A calma se tornou vento. O amigo próximo se fez distante.

 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

COMENTÁRIOS SOBRE ALGUMAS QUESTÕES DO ENEM - LINGUAGENS E CÓDIGOS - 2020

 

CORREÇÃO COMENTADA / ENEM 2020 / CADERNO AZUL

Professor Humberto Silva de Lima

 

Questão 06 – C

Embora o poeta tenha sentido “na redondilha a primeira célula de um poema”, o candidato poderia marcar a alternativa A, considerando a função emotiva dessa passagem. No entanto, a questão inquire a função de linguagem predominante, e o poeta, no texto como um todo, lança mão da língua para discorrer sobre o processo de criação de “Vou-me embora p’ra Pasárgada!”, e esse é um processo metalinguístico. Portanto, a alternativa correta é a C.

 

Questão 07 – E

O apagamento da preposição “a” na frase em questão reproduz uma variedade linguística recorrente na fala de muitos brasileiros, já que a norma padrão prescreve a estrutura “A que horas ela volta?”, cuja resposta pretendida é a hora exata. Portanto, a alternativa correta é a E.

 

Questão 08 – A

O encontro é pensado para surdos e ouvintes, o que anula as opções C, D e E. No texto, não é claro que há uma necessidade de redefinir o espaço de circulação da poesia de caráter urbano. Logo, o evento imprime à expressão poética em geral ritmo e visibilidade, o que torna a alternativa A correta.

 

Questão 09 – A

A cultura regional não se resume à cultura nordestina, e essa concepção invalida as alternativas C e D. Além disso, a variedade linguística de um país não se reporta apenas ao nível lexical, o que torna incorreta a alternativa B. O fato de o texto apresentar a ideia de que algumas expressões idiomáticas terem surgido de forma curiosa não significa que houve aí, como um todo, mudança linguística, e a alternativa E, diante disso, torna-se incorreta. Logo, a alternativa A é a correta, pois o texto tem por objetivo inventariar expressões idiomática do português brasileiro, algumas das quais têm origem curiosa – logo, não se trata estritamente de variação linguística ou de mudança linguística no vernáculo.

 

Questão 10 – C

A razão discursiva do uso das aspas é valorizar os metais considerados como essenciais para a fabricação de vários produtos que usamos na nossa vida cotidiana. Logo, a alterativa correta é a C.

 

Questão 11 – B

Instabilidade psicológica, natureza opressiva, fragilidade humana e depreciação do sentido da vida são extrapolações diante da leitura do texto, o que invalida as alternativas A, C, D e E. Portanto, a alternativa correta é a B, visto que a paisagem se configura de maneira tal que, diante dessa configuração, há uma convergência do estado emocional de Maria segundo o que a própria natureza lhe fornece, não necessariamente opressão, e sim agitação.

 

Questão 12 – A

Nessa questão, observa-se a intertextualidade entre a letra “Águas de março” e os textos de Bilac e Carvalho. Com isso, a alternativa é a A. Convém lembrar que o ponto de macumba gravado por Carvalho não pertence à cultura erudita, o que invalida a alternativa B. A letra “Águas de março” é inovadora no sentido de resgatar diferentes tradições da cultura brasileira, o que torna a alternativa C uma opção correta parcialmente, observando-se o erro de redução (opção “correta”, mas incompleta). A relativização e o fato de as obras-fonte serem pouco conhecidas no cenário cultural são extrapolações em relação aos textos em análise.

  

Questão 13 – E

As alternativas B, C e D são extrapolações em relação ao texto. O candidato poderia ficar entre a A e a E. O problema da alternativa A é o erro de redução, já que a organização de eventos pode ser feita em qualquer situação foram das comunidades virtuais. A alternativa E coaduna-se com a proposta do texto com a organização do evento de forma virtual.

 

Questão 14 – B

Niilismo é uma doutrina filosófica que atinge as mais variadas esferas do mundo contemporâneo, cuja principal característica é uma visão cética radical em relação às interpretações da realidade, que aniquila valores e convicções. As primeiras ocorrências do termo remontam à Revolução Francesa, quando foram definidos como “niilistas” os grupos que não eram nem a favor nem contra a Revolução. Mesmo assim, a atmosfera de niilismo a que o texto 2 se reporta não quer dizer que os jovens artistas britânicos tinham como ideal a recusa a crenças e valores morais, estéticos e políticos na história moderna, como diz a alternativa A. As alternativas C, D e E são exemplos de extrapolações, porque o uso de materiais incomuns não tem a ver com a recessão, a sustentabilidade ou  a pós-modernidade dos anos 90. Portanto, a alternativa correta é a B.

 

Questão 15 – B

A alternativa A apresenta uma extrapolação, pois o texto não diz que o futebol apresenta aproximação com o tênis, no que tange às relações de gênero. Da mesma forma, as alternativas D e E são exemplos de extrapolações. A alternativa C é uma contradição, pois se, no texto, é dito que os jogadores ganham mais que as jogadoras, como as remunerações são proporcionais aos esforços deles no treinamento esportivo? A maior remuneração aos jogadores ainda torna hegemônico o futebol masculino, o que valida a alternativa B.

 

Questão 16 – E

O argumento mais forte para a conclusão da ponte se encontra no último período do texto. Daí a alternativa E ser a correta.

 

Questão 17 – D

A resposta encontra-se nos dois últimos períodos do texto, fazendo com que a alternativa D seja considerada correta.

 

Questão 18 – A

As opções B, C, D e E não encontram respaldo no texto. A opção A pode ser comprovada por meio da ambientação militarizada – portanto, austerizada – diante do medo (versos 18 e 24).

 

Questão 19 – C

Pressupõe-se que tal pedido se origina do entendimento de que algum crime aconteceu, e isso encontra-se na alternativa C. Na alternativa A, observa-se o erro de contradição, haja vista que o texto em análise é um cordel; portanto, de caráter literário, cuja linguagem é eminentemente conotativa. Não se pode dizer que o cordel explora termos próprios do discurso jurídico, como se diz na alternativa B. A alternativa D não encontra respaldo no texto.  Os crimes são uma espécie de infração penal mais grave, com penas mais altas; por sua vez, as contravenções são infrações mais leves com penas menos relevantes; com isso, invalida-se a alternativa E.

 

Questão 20 – D

Em todo o tempo, parece que o “empreendedor de palco” se lança mão de comandos de modo que o ouvinte os siga para um determinado fim. É isso que o texto apresenta, fazendo com que a alternativa D seja a correta.

 

Questão 21 – B

Na alternativa A, o problema encontra-se na ideia de a cultura popular a que se refere o texto ser um patrimônio nacional. Na alternativa C, observa-se a transformação do popular em erudito, o que não encontra respaldo no texto. O texto não faz referência a uma população local, como se lê na alternativa D. Nem tudo que é religioso faz parte do folclore brasileiro, o que torna incorreta a opção E. Logo, a alternativa correta é a B, em que se resume a cultura popular nordestina pela leitura do texto proposto.

 

Questão 22 – A

O anúncio publicitário não se volta apenas para a igualdade de gêneros ou regras de boa conduta nos estádios. O texto enfatiza o combate à violência entre os gêneros nas torcidas. Com isso, a alternativa correta é a A.

 

Agora, confira as demais questões:

23 A

24 D

25 A

26 D

27 D

28 E

29 B

30 B

31 E

32 B

33 A

34 A

35 A

36 D

37 E

38 A

39 C

40 A

41 A

42 A

43 D

44 B

45 B