sábado, 12 de dezembro de 2020

Escritos: (não) (des) acreditar.

Escritos de 12 de dezembro de 2020

Por Humberto Silva de Lima

Cá estou, ainda em plena pandemia do coronavírus, cujo lexema ainda é um enigma sanitário para o mundo, escrevendo em uma prosa poética de ênfase ou denúncia. Falo daqueles que insistem em não acreditar e desacreditar.

A língua por si só poderia explicar isso. Eu acredito e acredito, porque sou polissêmico, assim como a língua. Também são polissêmicas as pessoas teimosas, repetidoras de Fake News, cujo conteúdo tem levado à morte muitos. Inocentes ou não, todos têm o direito à saúde e não ao descrédito por não acreditarem na ciência. Nesse descrédito, eu não me incluo. 

Se eu acredito e não desacredito, estou ao lado dela. Caso contrário, ajudo a cavar um túmulo e, com toda a certeza, passo a ser o coveiro moral.

O Brasil é o último em quase tudo. A escravidão não foi um mero detalhe econômico no nosso país: criou uma linguagem social, e isso nos trouxe gravíssimas consequências. Uma delas está aí: fortalecer aqueles que não acreditam e desacreditam. Não acreditam na e desacreditam a falta de liberdade à vida. Estar em casa fazendo home office é uma liberdade à vida; forçar o trabalhador a pegar um trem lotado é anular a vazia Lei Áurea.   

Estamos cercados. Estamos órfãos. Tenho a minha fé e rogo a Jesus que interceda por nós. Mas não nos calemos. O “cálice” não pode ser ressuscitado nesse contexto de tamanha infâmia. O prefixo de ‘descrédito’ ganha duas mortes em meio à vida de quem a enuncia, porque não é possível viver sem ser político. Estamos observando somente atitudes, até porque devemos amar os nossos inimigos.

Querem que eu não acredite e desacredite. Se eu aceitar tais atitudes, como morrerei em paz? É neste país que morremos aos poucos, por falta de leitos, por falta de uma vaga. Quem pode nos valer? Na minha opinião, só Deus, em quem acredito e firmo a minha esperança.

Não se trata de religiosidade. O pouco que aqui escrevo é literatura. É a minha proposta de intervenção diante desse cenário político a que assistimos, cenário que mais parece um joguete.

Não temos culpa se um quase morreu por assassinato. Esse alguém não pode imputar esse pecado a uma nação inteira. Ninguém é obrigado a responder da mesma maneira. Essa prosa é um absurdo diante de discursos que desmerecem as minorias por meio de um “E daí?”

Mesmo assim, a História está sob controle, desde que também façamos a nossa parte.

 


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